PESQUISA: DOCENTE VAI AOS EUA COM A NASA PARA EXECUÇÃO DE PROJETO COM O TELESCÓPIO HUBBLE
22/11/2022A pesquisa pode nos levar não só a novos conhecimentos, mas a lugares mundo afora! Um exemplo disso é a Profa. Dra. Lucimara Pires Martins, que está nos Estados Unidos para desenvolver a primeira etapa do seu projeto aprovado em 2021 pelo Instituto Científico do Telescópio Espacial (STScI) da NASA, o Hubble.
Docente do Programa de Pós-graduação em Astrofísica e Física Computacional e Núcleo de Astrofísica da Unicid, Instituição da Cruzeiro do Sul Educacional, Lucimara tem conhecimentos em bibliotecas estelares, que serão aplicados na atualização de um código utilizado para análises de dados do telescópio, para identificar e mapear estrelas.
A professora da Unicid decolou para o país para começar os trabalhos do projeto, que deve ser desenvolvido por três anos. Nesse primeiro momento, os participantes estão organizando os cronogramas os iniciando os trabalhos junto ao STScI, em Baltimore.
“Através do instituto e do financiamento conseguido para desenvolver o projeto com a NASA, contratamos um pós-doutor para trabalhar conosco, que já começou nessa semana. Então a ideia é alinharmos tudo nesta primeira etapa. Além disso, recebemos a notícia de que uma das galáxias do segundo pedido no telescópio HST foi observada. Então os dados para andamento estão começando a chegar”, destaca a professora.
O Hubble é um dos telescópios mais disputados por astrônomos no mundo todo e dos mais difíceis de se conseguir aprovação: “É grande a concorrência; apenas astrônomos de excelência conseguem ter seus projetos aprovados. Isso mostra a maturidade do tipo de ciência desenvolvida pelo grupo de astrofísica da universidade”, comemora Lucimara.
O Telescópio Espacial Hubble, desde que foi lançado pela NASA, em 24 de abril de 1990, vem brindando a humanidade com informações e imagens espetaculares do Universo.
Ele registrou a sequência de impactos do cometa Shoemaker-Levy 9 na superfície de Júpiter (1994), os Pilares da Criação, na Nebulosa da Águia (1995), e o Campo Ultra Profundo, com milhares de galáxias (2003-2004), entre muitas outras imagens lindíssimas.
Starburst99
Para chegar a esses resultados que podem ser apreciados pelo público, muitos milhões de dados têm de ser processados em diferentes etapas – é nesse ponto que Lucimara entra.
Ela já trabalha em colaboração com Claus Leitherer, professor titular do STScI, no projeto ULLYSES, coordenando estudos sobre uma biblioteca de estrelas que vêm sendo observadas com o telescópio Hubble. “O projeto que está sendo desenvolvido agora é uma evolução natural dessa colaboração, em que utilizaremos essas estrelas no código Starburst99, desenvolvido pelo Dr. Leitherer”, explica.
O Starburst99 cria modelos com base em estrelas mais próximas observadas na nossa galáxia. “Mas este código está atualmente desatualizado; já existem observações de muito maior qualidade disponíveis hoje em dia”, ressalva.
Galáxias
Para que se possa entender o que essa atualização significa, ela esclarece: “Galáxias são formadas de estrelas de todos os tamanhos, cores, temperaturas e idades. Um conjunto de estrelas de uma galáxia que são formadas de uma mesma nuvem em um determinado instante é chamado de população estelar. As populações estelares de uma galáxia nos contam sua história: quando ela formou estrelas, como elas evoluíram, como suas abundâncias químicas se modificaram.”
“Para galáxias distantes, nem mesmo o maior e mais moderno telescópio consegue olhar estrelinhas individualmente. O que observamos é a soma da luz de todas elas misturadas. Só é possível identificar quais estrelas compõem essa luz misturada (a qual chamamos de luz integrada) através de modelos”. Que é justamente o que faz o código que será atualizado.
Mais sobre o projeto
A docente ainda disse que o objetivo é atualizar o código Starburst99 com as mais novas gerações de modelos de evolução estelar e criar modelos de população de estrelas mais avançados e de melhor qualidade, incluindo as estrelas quentes e massivas observadas recentemente com o Hubble através do projeto ULLYSES.
O detalhe é que, no projeto, o código Starburst99 vai ser convertido do atual sistema operacional Unix Solaris para ficar compatível com distribuições de Linux. “Será colocado em uma interface mais amigável para o usuário”, destaca a profa. Lucimara, acrescentando que o acesso e a utilização dos dados ficarão mais democratizados.
Com os dados observacionais obtidos via Hubble/projeto ULLYSES e essa atualização, “o Starburst99 será uma das principais ferramentas para a análise dos dados de galáxias que serão obtidos com os mais modernos telescópios”, comemora a pesquisadora.
Segundo a professora, o projeto submetido ao telescópio foi do tipo arquivo, enviado ao Ciclo 29 de pedidos ao Hubble Space Telescope. Esse tipo de pedido não é para necessariamente observar novos objetos com o telescópio, mas para utilizar dados do arquivo em um projeto de inovação, no caso, o upgrade do código.
Graças a esse código e aos modelos gerados por ele, é possível observar melhor as populações estelares de galáxias, compreender como as galáxias formam estrelas e evoluem. “Nos ajuda a entender como o universo evolui como um todo”, conclui a profa. Lucimara.
Em um segundo projeto da colaboração, submetido ao Ciclo 30 de pedidos do Hubble Space Telescope, foram pedidas observações de galáxias com formação estelar intensa. Nos dados obtidos através deste segundo projeto, também aprovado, serão feitos os primeiros testes do novo código.